Estão todos aí?

Todo jornalista, todo escritor, todos que se propõem a publicar seus textos são vaidosos, narcisistas por excelência. E eu sou um deles - um narcisista inseguro. Por isso, resolvi postar em vez de me prostrar. A idéia de “Por Volta da Meia Noite” surgiu para compartilhar devaneios, reflexões e amenidades com quem estiver disposto. Mas por favor, não leve me leve a sério. Todas essas palavras são despretensiosas, embora eu não as esteja jogando ao vento.

Logo acima, escrevi idéia porque tenho até 2012 para me adaptar às novas regras ortográficas, então, acostume-se com a escrita dentro e fora dos padrões.

Por falar em palavras, não me lembro se li, ou se alguém me disse que um escritor tem 15 páginas para te convencer a ler seu livro. Se depois disso você não sentir atração pelo texto, parta para outro (livro ou escritor).

Aqui não existirão livros. Digitarei 500, mil, cinco mil caracteres (textos enormes, se pensarmos que a nova moda são os 140 toques por postagem), portanto, não hesite em parar de ler caso o primeiro parágrafo não agrade. Vá para outro texto, outro blog, ou então, vá para a puta que pariu.

Aproveite!

terça-feira, 23 de junho de 2009

Sobre relógios e chinelos


Quando roubaram o Rolex de Luciano Huck no final de 2007, a Folha de São Paulo cedeu um espaço ao apresentador na editoria de Opinião do jornal para ele desabafar. O cara foi muito infeliz no texto, tanto que a polêmica foi enorme. Ferréz, um grande escritor (literatura marginal é com ele mesmo) também teve espaço para escrever na Folha, justamente sobre o tal relógio. E a celeuma continuava. A Rede Globo chegou a fazer uma matéria mostrando como funciona o esquema de roubo de relógios de luxo (ela tinha que fazer isso, já que seu funcionário foi assaltado). Zeca Baleiro mandou uma carta para a Folha “descendo a lenha em Huck” e foi muito criticado por isso. Enfim, o cantor também teve seu espaço no jornal. Eu realmente não entendi como o roubo de um relógio cujo valor pode alimentar uma família por mais de um ano ganhou proporções tão grandes.

Na minha época de colégio (quando tinha uns seis, sete anos), me lembro que quando alguém nos perguntava as horas, dizíamos: “Relógio de pobre é na igreja”. Como boas crianças, não tínhamos noção do que estávamos dizendo, mas, para mim, essa frase tem outro sentido nos dias de hoje. Se você quer saber as horas, tem um milhão de possibilidades: o relógio do computador; do celular; dos termômetros espalhados pela cidade; perguntar as horas para alguém, ou então, realmente olhar as horas em alguma igreja (estamos em um país de colonização católica, então, relógio é o que não vai faltar).

No final do século XIX, realmente devia ser mais difícil saber as horas, até porque, a única maneira realmente seria ter um relógio de bolso ou o das igrejas (será que a frase que dizíamos quando crianças veio dessa época?). Depois que Santos Dumont inventou o relógio de pulso, as coisas começaram a ficar mais fáceis. Depois do relógio digital, nem se fala – o preço ficou muito menor e todos já podem colocar uma “pulseira que marca horas” no braço esquerdo ou direito (confesso que sinto um pouco de aflição de pessoas que usam relógio no braço direito).

Vamos pensar em algumas coisas: 1) função: o relógio serve pra marcar horas e ponto final; 2) o relógio que custa oitenta reais (comprado em loja, com nota fiscal) marca horas da mesma forma que um relógio de vinte mil pratas (sim!! R$ 20.000,00!!! Este, geralmente comprado no exterior. Quando é roubado, já era, não tem como você reclamar, justamente por falta da nota fiscal).

Antes que me chamem de comunista de museu, só tenho uma coisa para dizer: Nos dias de hoje, a única função de um Rolex é criar um sectarismo. Se todos pudessem ter um, ele não precisaria “existir” e todos usariam o relógio de oitenta reais e não seriam roubados (esqueci de dizer: quem usa relógio, seja no braço direito ou no esquerdo, com o visor virado para baixo, me dá medo!).

Você pode até estar se perguntando: “Mas aonde ele quer chegar com essa porcaria?”. Agora vai ficar sabendo. Vou para a praia, depois de sete anos sem ver o mar (sou mineiro). Como já faz muito tempo que não tenho contato com o mormaço, com a areia dentro da sunga e outras coisas típicas do litoral, saí para comprar algumas coisas. Duas bermudas de surfwear, protetor solar fator 60 (para aproveitar os dez dias de sol), um chinelo bem confortável e algumas coisas supérfluas (viu como não sou um comunista de museu?!).

Pois bem. Achei um chinelo do jeito que queria e por um preço justo. Paguei quarenta reais, o que me permitiria comprar duas Legítimas, ou então, juntar mais R$ 130 para comprar um chinelo que tinha amortecedor e até abridor de latas (é verdade, abridor de latas!). Esse que eu comprei tem todos os atributos que procuro em algo que vou colocar no pé: confortável e discreto. Semana passada, uma prima foi almoçar na minha casa. Ela está com 19 anos e é super ligada com essas coisas de marca. Pagou R$ 700,00 em um tênis, coisa e tal. Quando me viu com meu chinelinho confortável e discreto, perguntou: “Matheus, você comprou um #%$¨@& (não vou fazer propaganda para ninguém aqui)?” Como a pergunta foi retórica, não precisei responder. Só quis saber o motivo do espanto dela.

Foi então que descobri que aquele chinelo, tão bonito e confortável era de “marginal”. Quando ouvi aquilo, o chinelinho não perdeu seus atributos, mas eu fiquei com uma pulga atrás da orelha – existe chinelo de marginal? Se existir, então existe chinelo de “prayboy”, de “hippie de butique” e o escambau? Provavelmente.

Só mais tarde, naquele mesmo dia eu entendi que não existe chinelo de marginal nem do escambau. Um dia, estava na fila do cinema com minha namorada. Comecei a rir e ela não entendeu nada. Bem perto da gente, tinha uma penca de caras vestidos com bonés de R$ 200; calças jeans de quase mil reais (rasgadas, é claro); camisetas de malha com muita estampa que não saem por menos de R$ 150,00, e claro, as Legítimas nos pés. Claro, tudo pensando no conforto. Geralmente, quem se veste com boné, calça rasgada, camiseta de malha e chinelo de dedo? Bóia fria. Tava explicado: os caras gastaram quase duas mil pratas para ficarem parecidos com bóias frias. Se eles usavam Rolex? Realmente não reparei.

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